sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Irmão Tiago,
aguardo sempre, com expectativa, a sexta para ler os " Animais ..." no entanto não posso estar mais em DESACORDO contigo sobre este assunto. Eu não me vejo a pedir aconselhamento pastoral para saber se posso ler o "Kamasutra" ou se havemos de usar chicote e cabedais porque penso que é um assunto que só aos casados diz respeito, mas agora que a ética sexual cristã não seja matéria de púlpito?????? Então o que é que é matéria de púlpito?!?! (...) Onde está a nossa missão profética????? Repara que eu hoje já não deliro com a pulseirinha " WWJD " mas já houve tempo em que fiquei cheio de inveja de não ter uma também (...).
Mas por que será que nós nos calamos e recusamos-nos a testemunhar sobre a Cosmovisão Cristã , em todas as áreas da vida humana, e esta evidentemente é tão apelativa (...)? Ademais o que é que nos tem a ensinar o exemplo da Igreja de Corinto? Eu, de facto, só quero ser discípulo de JESUS e de mais nada ou mais ninguém. Dizes com verdade que ninguém é mais santo por não ter dado "uma queca" antes de casar. Mas Jesus também cá andou e deixou-nos um exemplo de santidade que devemos seguir e a ele, somente, prestamos contas (...).
David Emanuel da Silva Cameira

Caro David,
em bom dia te respondo - terminei a leitura do "Ensaio sobre o amor humano" de Jean Guitton, que desde já recomendo.
Com o texto de há três semanas queria deixar claro o meu desagrado com a forma amputada com que os evangélicos pegam no corpo da castidade. Como era visível nas minhas linhas, a virgindade parece-me uma questão de bom-senso. E dificilmente entendo o trabalho pastoral sem ele. Nessa matéria a frase que dizia que não era matéria de púlpito é retórica ao serviço da ideia. Lamento que tantos evangélicos, tão acostumados a contorcionismos apologéticos para prevenir que as Escrituras não amachuquem as suas elaboradas concepções teológicas, percam a elasticidade para todos os outros escritos.
Porque gosto de usar a cosmovisão cristã por dentro das calças considero que devemos ser mais lentos a desfraldar bandeiras. Custa-me a redução que se faz da castidade à ausência de cópula. Só uma visão tão estreita de um valor espiritual nos pode transferir o perigoso sentimento de virtude própria.
Os adolescentes evangélicos pouco precisam do Manual Para A Sobrevivência À Penetração Fortuita. Se os ensinarmos a sobreviver sem telemóvel já será um subsídio valioso contra uma perspectiva tão material e ensimesmada da existência. Quando se quer vender a virgindade aos adolescentes como se fosse um novo toque polifónico, há que ter cuidado. Não vamos nós ficar sem rede.
Tiago de Oliveira Cavaco