sexta-feira, abril 16, 2004

A Europa Idiota
O facto de me cruzar com Clara Ferreira Alves num pouco iluminado parque de estacionamento do Chiado fez-me ir recuperar uns escritos antigos. Há poucos meses a articulista escrevia um texto no Expresso em que apelidava os Estados Unidos de Nação Idiota, à boleia do caso “seio da Janet Jackson”. E se achei graça ao estilo acabei a leitura daquelas linhas convicto de que se Clara Ferreira Alves já visitou os EUs, provavelmente nunca lá esteve. Chesterton dizia que “o viajante vê o que vê, mas o turista vê o que veio ver”.
Aquela pluma caprichosa não conhece o que é o americano e não revela interesse em mudar a sua estação de ignorante. O desassossego do busto da cantora tornou-se paradigmático. Aquilo que CFA tenta escrever com sofisticação é o que todos já ouvimos das bocas impressionadas dos participantes de fóruns radiofónicos. O que é suficientemente revelador.
Deus amaldiçoou os europeus. Castigou-os a carregar uma presunção de virtude. O europeu é na filosofia e na política um grandessíssimo chato. Redondo na sua ortodoxia e emproado na sua verbosidade. A ferida aberta pelos fugitivos do Mayflower o Velho Continente nunca sarou. Como era possível fazer tábua rasa da experiência de séculos para ousar começar algo de novo no outro lado do Oceano?!
CFA não entende a raiz política do americano. O seu puritanismo, o seu apego patriótico, a sua visão comunitária da sociedade, os seus hamburgers. Interpreta porcamente, à laia do europeu ressabiado.
O facto de crescer relacionando-me com americanos ajudou-me e prejudicou-me. Qualquer jovem evangélico português é perturbado na sua latinidade pelo convívio desde o berço com os missionários ianques. Mas há por aqui bênção também. Se andasse pela outra banda do Atlântico borrifar-me-ia para a mama Jackson. Mas não me armava em intelectual europeu.
A grandeza da América está em ter mais intelectuais europeus que a própria Europa. E não lhes atribuir grande importância.
Tiago de Oliveira Cavaco