sexta-feira, janeiro 16, 2004

É um prazer para o crente ler com entendimento, pensar com acutilância, observar com discernimento, pesquisar com profundidade, avaliar em justiça, memorizar disciplinadamente, escrever com elegância, e sentir com paixão toda a beleza de Deus e do mundo criado por Ele.
Isto a propósito dum axioma simples: Deus não gosta de ser ignorado. Ora, falar de Deus e de ética cristã, apenas como o fundamento da nossa sociedade, é grosseria imperdoável. Os fundamentos não se vêem e quase sempre passam despercebidos. Mas Deus deseja ser parte integrante e visível do nosso dia-a-dia. Ele não quer ser um "ponto assente". Longe de ser periférico, Ele deseja ser central. Em tudo! Nos nossos sonhos, pensamentos, atitudes, gestos, estéticas, interpretações, ciências, padrões ...
Deus não gosta de habitar como um assentimento silencioso dentro de nós. Ele gosta de ser celebrado. O hino "para mostrar o Meu poder em ti, e para que o Meu Nome seja anunciado em toda a terra" (Êxodo 9:16), é repetido até à exaustão teológica em Êxodo 6:6-7; em 7:4-5; em 8:9-10; em 9:29; e em 14:3-4. E, Deus faz questão de que ninguém esqueça o Seu poder, daí ter instituído a Páscoa: "se acontecer que o teu filho no tempo futuro te pergunte: Que é isto (a Páscoa). Dir-lhe-às: O Senhor nos tirou com forte mão do Egipto" (Êxodo 13:14).
Ora, o estado de coisas chegou a um ponto, em que Deus não somente é ignorado mas muitas vezes desprezado e relegado para um canto espiritual onde alguns tacanhos resistentes teimam em dar-lhe o devido valor. Estamos anestesiados diante deste insulto à presença e ao poder de Deus. E, se a agressão contra Deus nos ofende, a omissão de Deus escapa-nos. E sentimos esta "ausência" (o homem moderno não tendo conseguido matar Deus, pô-lo fora da arena da vida) como um sentimento normal. Tal como é normal não pensar no ar que respiramos a cada segundo, ou na terra sólida que pisamos.
Penso ser urgente não tomar como garantido, pelo menos três ideias:
1 - o propósito divino por detrás de cada detalhe do universo. O mundo que habitamos tem um carácter planeado. Cada ser tem o seu espaço de acção e foi desenhado para ocupá-lo.
2 - a moral básica por detrás de cada gesto humano. Todos temos uma consciência que nos acusa quando defendemos um pedófilo, e nos elogia quando defendemos a vítima. Há uma distinção intrínseca entre o bem e o mal (é mau bater numa velhinha! Muito mau mesmo!).
3 - a sustentação sobrenatural por detrás da existência. O que permite que eu tenha fôlego? Porque é que a terra não salta da sua órbita? A imensidão dos porquês esmaga-nos. Só Deus (como Deus presente) responde de forma convincente.
Penso que ideias têm sido abafadas, e julgo serem relevantes para todas as esferas da sociedade. Até para a caso da Casa Pia!
Samuel Nunes