Já chegou quinta-feira, dead-line para a participação nos Animais Evangélicos, e o problema mantém-se: o que poderei escrever se a fé me impele ao silêncio?
Penso nisto. Em qualquer instituição, o dever dos compromissos assumidos perante os outros obriga-nos a dobrarmos o espírito com a força da necessidade. Em esforço deverei fazer nascer em mim as palavras de que não sinto vontade nem para as quais encontro inspiração.
Lembro-me dos profissionais da Fé, daqueles cujo sustento depende o exercício do palavrear quotidiano sobre Deus. Tento ser honesto. O assunto é demasiado sério para mim e, como tal, não irei usar ironia. Poderia fazer uma pirueta e sacudir a água do capote, dizendo: “Mas como é que eles fizeram para conseguir domar o Espírito Santo? Como é que O conseguem usar para os seus propósitos, as suas obrigações perante os outros?” Mas não é, realmente, isso. Reconheço que sei muito pouco, mesmo quase nada, sobre a fé alheia. “Cada um sabe de si.” Não foi esta uma das principais mensagens de Jesus? Não devo julgar. Tenho é de olhar para mim e encarar o meu problema sem meter os outros ao barulho. Afinal, que sei eu de depender financeiramente de uma instituição que espera, e exige de mim, pelo menos uma revelação em cada domingo? Que sei eu de, dessas palavras obrigatórias depender o sustento da minha família?
Não me sai da cabeça a célebre frase “O Espírito sopra onde quer”. E, ao ‘onde’ teremos de juntar obrigatoriamente o ‘quando’. Se eu estou nas mãos de Deus, como acredito estar, como O poderei obrigar a dar-me palavras que Ele acha que eu não deva dizer?
Fica a pergunta, sendo que, perante ela, assumo a minha perplexidade. Ao contrário de alguns amigos cristãos que me são queridos, não tenho nem metade das respostas para as perguntas que me faço. E, se as tiver no momento imediato antes da minha morte, não poderei deixar de pensar que algo correu terrivelmente mal.
Olho agora para as linhas que escrevi. Surge-me uma ideia: talvez tenhamos sempre, afinal, algo para dizer em termos de fé. Só que pode não ser o que as pessoas estarão à espera. E nisto, o Espírito Santo, como sabemos, pode-se dizer que não tem par, passe a redundância perante a sua omnipotência.
João Leal