Das primeiras aulas, dos primeiros estudos e leituras, das primeiras incursões na filosofia da religião, ficou um ensinamento: "a experiência não é normativa"!
Curiosamente, a minha experiência tem-me ensinado que a experiência não é outra coisa senão normativa! Mas eu percebo a ideia.
O que acontece comigo, não acontece necessariamente com outra pessoa e daí a impossibilidade óbvia de fazer depender a construção teórica das histórias de cada um. Uso o termo histórias propositadamente, pois creio que a história, ou as estórias pessoais, ocupam hoje por usurpação o trono anteriormente ocupado (também por usurpação) pela infalível lógica dedutiva.
Ontem queríamos compreender o mundo, construir uma ética e uma moral, saber de onde vínhamos e para onde íamos, e o que fazer entretanto. Para descobrir esses absolutos (supostamente ao alcance da nossa razão caída) deveríamos fazer uma construção teórica, lógica e dedutiva, onde a experiência pessoal não deveria ter lugar.
Hoje, provavelmente as mesmas perguntas já não farão sentido, mas se alguma construção houver, far-se-á seguramente com outros materiais. Os tijolos hoje serão os (vários) sistemas de crenças do indivíduo, as suas histórias, a sua compreensão do mundo, as suas limitações e medos, enfim, a sua subjectividade.
Mudam-se os tempos e vão-se mudando os materiais, mas o que não muda é a necessidade de construir alguma coisa. Nenhum de nós escapa ao fado de ter de decidir por que caminho vai, porque Deus quis assim. Todos fazemos isso. Todos os dias e muitas vezes ao dia, exercemos a nossa liberdade existencial. Optamos, escolhemos, rejeitamos, esperamos, aprendemos, ou fugimos, mas somos nós que decidimos. E a nossa praxis é indisfarçavelmente sustentada pela nossa construção teórica.
Tenho muitos caminhos que vão dar a lugares muito diferentes. Tento iluminar as encruzilhadas lógicas com a minha experiência (que assim faço normativa), e construo as minhas teorias. Pelas minhas teorias, faço as minhas escolhas.
E assim vivo: aposto.
Tiago Branco