Quando rebentou todo este escândalo à volta da Casa Pia, o meu amigo Júlio teve uma saída popular: “eu, os homossexuais ainda entendo, agora os pedófilos ...!?” Claro que a falácia do Júlio é comum a muito boa gente, e responde-se com esta ideia simples: é essencial haver um padrão. Há princípios a respeitar. O liberal sexual que sacode de si a canga dos “padrões Bíblicos”, substituindo-a pela ideia de que sexo é auto-gratificação, não pode resistir a ninguém que queira ser mais liberal do que ele. Porque haverá sempre alguém mais “aberto”, mais “livre de preconceitos” e mais “honesto com os seus desejos íntimos”. Onde quer que se colocar o limite, alguém verá nisso uma barreira à sua liberdade de expressar a sua sexualidade. Veja-se o caso paradigmático do canibal alemão!
Naturalmente, que ultrapassados os “padrões Bíblicos”, até praticar sexo com cães acaba por ser natural. Pois alguém poderá argumentar que isso o satisfaz e que faz parte de “quem ele é”; e que agora é muito mais feliz por estar “sintonizado com o seu centro sexual”; e que a relação é de “consentimento mútuo”. (não há notícia de cães a ladrarem em protesto, nesta área da vida!)
E, aqui torna-se relevante chamar à arena Aristóteles que na sua Ética, faz distinção entre uma acção voluntária, e escolha deliberada (ou deliberação). A acção voluntária, diz Aristóteles, tem origem no agente activo da acção. Não é portanto, compulsiva. Todavia, as escolhas deliberadas, embora voluntárias, vão mais fundo: elas resultam duma deliberação à luz de conhecimento e princípios morais. Neste sentido, os animais são capazes de produzir acções voluntárias (os impulsos internos e o seu instinto), mas falta-lhes a capacidade de escolher moralmente. Da mesma forma, as crianças terão atitudes voluntárias mas não escolhas morais deliberadas. Certamente que terão algum conhecimento e terão noções de princípios morais, mas a sua apreensão não é completa. Daí que ter sexo com crianças será sempre um crime, porque mesmo quando consentem na pratica sexual, elas são incapazes de deliberar. Neste caso, pertence ao adulto maduro a escolha deliberada de não ter sexo com crianças, mesmo que elas consintam.
Obviamente que o emancipado sexual não acredita em padrões normativos quando se fala de sexo (posição racionalmente incoerente, pois não haver nenhum padrão normativo já é um padrão normativo em si mesmo!). Para ele o sexo é puro prazer. Nada mais! E aqui coloca-se a pergunta: se o sexo é apenas prazer, então por que não deixar que as crianças pratiquem sexo à vontade. Afinal elas também sabem o que dá e não dá prazer!
E, assim resvalamos para a escravidão sexual de menores.
Não admira! Sem premissas, resta a permissividade.
(textos de apoio: The Nicomachean Ethics of Aristotle – cap 3 “Of the will”
Touchstone – A Journal of Mere Christianity nº 15
“Pedophilia Chic” de Mary Eberstadt)
Samuel Nunes