sexta-feira, janeiro 23, 2004

Está de volta a discussão em torno do aborto. E tudo indica que, pelo menos a médio prazo, os cidadãos serão de novo chamados a pronunciar-se sobre o assunto.
No referendo de 1998, o Não à despenalização da interrupção voluntária da gravidez venceu por escassíssimos quarenta mil votos. Foi uma vitória inesperada, pois todas as sondagens indicavam o resultado contrário.
Escrevi na altura, e parece-me oportuno relembrá-lo agora, que, para os evangélicos, esse referendo trouxe duas lições importantes.
A primeira, foi a afirmação da responsabilidade individual de cada crente, perante Deus e, por consequência, perante a sociedade.
Mesmo em questões tão dilacerantes como o aborto, a consciência do cristão, libertada e renovada por Jesus Cristo, habilita-o a tomar uma decisão. Não necessariamente a mais fácil, nem a que provoque menos dor. Mas aquela que contem a resposta de Deus para o problema em causa. Ser “sal e luz do mundo” implica, precisamente, trazer aos que estão à nossa volta a perspectiva divina. Seja por palavras ou por actos. Abdicar desse privilégio-responsabilidade, ou delegá-lo noutra pessoa ou instituição, significa por em causa o poder de Deus e as promessas contidas no Evangelho.
A segunda lição, refere-se à capacidade de influência social, enquanto grupo.
O raciocínio é simples. Se a margem de vitória do Não rondou os quarenta mil votos, e o número de evangélicos em Portugal ultrapassava largamente, mesmo nas estatísticas mais pessimistas, os cem mil, sendo grande parte deles maiores de idade, então não é descabido pensar que os evangélicos fizeram pender decisivamente o prato da balança. Como é óbvio, nada nos garante que esta conclusão esteja certa. Mas esse facto não lhe retira pertinência. A comunidade evangélica tem capacidade para intervir socialmente. É certo que nem sempre com um potencial decisivo tão grande como no referendo de 1998. Mas, independente do impacto, existe o dever de, dentro do respeito devido às autoridades instituídas, e usando os mecanismos previstos na lei, procurar que a nossa sociedade se torne mais justa aos olhos de Deus.
Pedro Leal