Acho possível que Deus não exista.
Acho possível que o Cristianismo seja um engano.
Acho possível que não exista nada para além da matéria.
Não tenho a certeza da salvação.
Acho possível que estejam erradas todas as coisas em que eu acredito.
Todos os anos me espanto com a minha ignorância de anos anteriores. Estou a crescer e espero não parar. Certezas absolutas, acho que não tenho nenhuma e, para dizer a verdade, desconfio um bocado de quem afirma tê-las. Penso que não é suposto nem é preciso termos certezas, antes convicções, antes fé. Acho que é isso que Deus valoriza em nós e o que nos pede. A fé, tal como o amor, é imerecida mas nunca injustificada. Sobre o amor pensaremos no futuro, mas hoje importa-nos a firme esperança nas coisas que se não vêm.
Ora todos temos crenças que nos estruturam. Estruturam também as nossas vidas e as nossas opções. Deste conjunto de crenças ou convicções, poucas foram verdadeiramente testadas, remodeladas e reconstruídas por tentativa e erro em procura da verdade. Mesmo em relação ao corpo fundamental de princípios que deveriam determinar o rumo das nossas vidas, a certa altura a verdade deixa de ser tão importante e é vencida pela legítima e pragmática necessidade de viver entretanto. Não podemos congelar a nossa existência até estarmos na posse de respostas definitivas e completas. Ao problema epistemológico do conhecimento e à consciência da nossa inegável parcialidade respondemos com apostas. Utilizamos aquilo a que gosto de chamar a balança PURK. Perante as escolhas, e sem dados que confiram certezas absolutas, pegamos na balança que sempre trazemos no bolso e colocamos nos seus pratos as razões, os argumentos e as contradições. Da pesagem, (que sempre varia em rigor, critério e cuidado de pessoa para pessoa), nasce a convicção do melhor caminho. E vivemos.
Acontece que é fácil esquecer que apenas pesámos os argumentos mais importantes, os que estavam mais à vista e mais perto do coração. E que aquela pesagem, feita com mais critério poderia ficar mais equilibrada, e que amanhã podemos dar de caras com um peso enorme que desconsiderámos, e ter de pesar outra vez. Quanto mais complexa a questão, maiores as probabilidades de assim acontecer. Não obstante, temos respostas, opiniões e convicções. Estamos apenas conscientes de que estas não são finais, nem absolutas. Estamos conscientes de que, mesmo quando o desequilíbrio foi notório ou mesmo esmagador e quando a aposta foi mais convicta, nunca é possível aceder a todos os dados imparcialmente. É uma aposta, é o exercício da nossa liberdade.
Cremos num Deus que não vemos sensorialmente, mas que percebemos, sentimos e vivemos. Cremos nas suas promessas, PURK se Ele é verdadeiro, as suas promessas são também verdadeiras. Com garantias não haveria fé, mas sim uma Lei, uma constatação. E aquilo que Jesus mais valorizou no Seu tempo connosco foi a fé, como a das crianças. Sem garantias, mas sustentada.
Se tentarmos ser intelectualmente honestos a nossa vida encarregar-se-á de confirmar ou negar as nossas apostas. E por isso compreendo as afirmações de quem, por viver tão intensa e apaixonadamente uma relação com Deus, já não consegue vislumbrar nenhuma margem de erro. Mas penso que ela existe à mesma.
Assim, sempre tentarei perceber assuntos complicados, e farei tentativas de repostas. Partilharei as minhas reflexões sobre assuntos complexos, sabendo que no próximo ano me poderei espantar com a minha ignorância presente.
Partilho com alegria afirmações prováveis e convicções provisórias.
Tiago Branco