sexta-feira, abril 09, 2004

[Sem título]
Na secção literária do hipermercado. Um destaque publicitário, o único visível para quem passa nos corredores principais, anuncia “bíblias”. Paro. Torno a reler. Confiro mais duas vezes e, já sem dúvidas, vou até lá. Encontro bíblias infanto-juvenis. Várias publicações de diferentes tamanhos. Com o entusiasmo um pouco refreado, para adultos só há uma colectânea de “pensamentos bíblicos”, folheio os livros tentando avaliar a fidelidade ao texto original. Descubro sobretudo histórias condensadas, com muitas ilustrações: David e Golias, Noé na arca sobrelotada, Zaqueu falando com Jesus do cimo da figueira. A exactidão dos relatos parece-me, em média, razoável. Destaca-se, neste aspecto, a tradução de um título inglês contendo os resumos, ou os episódios mais significativos, dos livros do Velho e Novo Testamento. No último capitulo, dedicado ao Apocalipse, uma agradável surpresa. A história bíblica fica em aberto. Numa mensagem profundamente evangélica, o livro encerra com a exclamação, plena de esperança, do Apóstolo João:
- Ora vem, Senhor Jesus!
Nestes tempos de pessimismo generalizado, precisamos de saber reconhecer, e valorizar, o que de bom vai acontecendo. Como, por exemplo, o facto de nunca como agora a Bíblia estar tão acessível aos portugueses.
Ainda não há muitos anos a afirmação de fé dos evangélicos passava pela exibição pública do livro de capa preta, a caminho do culto dominical. Hoje qualquer adolescente que frequente a catequese católica faz o mesmo sem correr grande risco de ridicularização.
No início do século passado, os colportores sofreram todo o tipo de privações para fazer brilhar alguns exemplares da Palavra de Deus no meio da escuridão romana. Hoje os hipermercados vendem porções e adaptações das Escrituras, e as prateleiras esvaziam-se.
É certo que muitas dessas adaptações falham na correcção doutrinária, e algumas delas apresentam as Escrituras como se de fábulas se tratassem. Também o espaço dedicado ao esoterismo, à astrologia, e outras superstições do género, ultrapassa largamente o concedido à Bíblia.
No entanto, esta presença crescentemente assídua no nosso quotidiano é importante. Porque significa que a mensagem mais importante alguma vez dirigida ao Homem vai alcançando novos leitores. E isso só pode ser uma boa notícia.
Pedro Leal