Androginia: A Sexualidade Pagã (1)
Tal como os Sodomitas de Génesis 19, a bater à porta da casa de Ló, o movimento "gay" está aí, influenciando toda a sociedade e às portas das nossas Igrejas. A exigência "gay" é simples: "não queremos apenas tolerância, queremos aceitação social". E, na realidade, o desafio que a questão homossexual lança, é profundamente transformadora porque implica um esbatimento de barreiras entre "igual" e "diferente" que marcava os conceitos normativos da heterossexualidade. Logo aqui surge uma pergunta importante: o que é a norma? O que é normal? Schaeffer dizia: "quando a vida é absurda, definir normalidade é uma perda de tempo". E G.K.Chesterton afirmava acintoso: "Schopenhauer, Tolstoy, Nietzsche e Shaw, estão a caminho do vazio do sanatório. Porque a loucura pode ser definida como a capacidade mental de alcançar o desespero mental, e eles estão quase lá". Será que já chegámos a este desespero mental? Será absurda a existência? Talvez! Por isso é pertinente perguntar como chegámos a este estado de coisas?
- Raízes no liberalismo, feminismo e espiritualismo
O movimento homossexual tem conquistado imenso terreno nas últimas décadas, e não vai definhar porque está intimamente ligado a todas as mudanças operadas na nossa sociedade moderna. Só para lançar algumas raízes, fica claro que o liberalismo foi um factor determinante. Uma hermenêutica baseada numa interpretação exclusivamente histórica dos textos Bíblicos, retirando toda a magia do milagroso, adubou aplicações meramente sociais. A Bíblia deixou de ser Palavra Viva, cortante e aguda, com dois gumes, para passar a ser um contentor amolgado duma verdade possível. De mãos dadas com um feminismo militante, estas interpretações Bíblicas deram força à ideia de que o texto Bíblico é "sexista", e que é tendencioso no que se refere à questão sexual. Rapidamente, passou-se a catalogar de "estreita" a visão Bíblica de Macho/ Fémea. Daqui para o espiritualismo reinante foi um passo de anão. Por isso assistimos à popularidade crescente duma espiritualidade pagã, apostada em não ser apenas uma moda passageira, mas determinada a criar um ambiente religioso universal que se oporá à visão Cristã do Cosmos.
- Raízes religiosas
Todavia, o homossexualismo também tem raízes religiosas. As mudanças radicais da nossa sociedade incluem uma exagerada liberalidade sexual, uma redescoberta do misticismo pagão (o Harry Potter dá uma ajuda), e uma profanação brutal do direito à vida ? o aborto. Será que tudo isto é mera coincidência? Ou haverá aqui uma ligação entre religião pagã e sexualidade pagã? Os homens lascivos à porta de Ló parecem dar a resposta. A sexualidade aparenta ser central e não periférica na sua vida social. a) Eles estão dispostos a quebrar as leis sagradas da hospitalidade. b) Recorrem à violência para cegamente cumprirem os seus desejos sexuais. c) Não aceitam a proposta desesperada de Ló, ao dar as suas filhas virgens. Portanto, uma completa falta de simpatia social. d) Desrespeitam ostensivamente alguém que tinha funções oficiais (Ló estava à porta da cidade, onde se tratavam dos negócios e da aplicação das leis), chegando a ameaçar que a Ló "fariam pior". O que seria pior senão o assassinato!? Assim, embora a homossexualidade se apresente muitas vezes na forma de minoria a ser protegida e associada a valores anti-vida, embrulhados na ameaça linguística do politicamente correcto; ela na realidade pretende legitimar os dogmas do paganismo.
A minha tentativa vai no sentido de definir a "nova sexualidade" como expressão integrante dos conceitos pagãos da antiguidade. A minha resposta não pode ser idêntica à de Ló que de bom grado sacrificaria as suas filhas. Tragicamente, esta concessão ética de seu pai influenciou de tal forma a vida das suas filhas que elas não tiveram problemas em cometer incesto na caverna. A ironia é incontornável: Ló faz escolhas na cidade que se dramatizam na caverna. E, também não podemos embandeirar a nossa moral superior. É urgente ouvir o coração dos que carregam a Imagem Divina, por mais que ela esteja embaciada. Nenhum de nós pode atirar a primeira pedra ... muito menos eu.
- Raízes do paganismo
Para estabelecer a ligação entre homossexualidade e paganismo é preciso concretizar as faces da espiritualidade pagã moderna. Em termos genéricos, todos os grupos pagãos, encharcados no caldo da Nova Era, falam em "sintonizar o universo com a semente divina, que é uma coisa inata no ser humano, reflexo desse ser supremo. A salvação estará ao alcance de todos, bastando para tal, libertarmo-nos de tudo o que impede a expressão do verdadeiro "eu". É preciso olharmos para dentro de nós e tocarmos no nosso interior". Na visão deste paganismo moderno, "a humanidade é uma realidade divina unificada, e todas as religiões em última análise são apenas expressões duma única verdade universal. O processo para se chegar a este entendimento espiritual é a intuição e a meditação. Isto alcança-se através duma experiência mística de percepção de nós mesmos como o centro dum círculo sem limites". Carl Jung dizia: "O eu é um círculo cujo centro está em todo o lado, e cuja circunferência não está em lado nenhum". A meditação, de acordo com o paganismo moderno, permite que "a alma se desligue dos limites do corpo, e entre em contacto com a unidade cósmica espiritual".
Ora, aqui não há terreno neutro. Ou aceitamos esta interpretação da realidade espiritual ou rejeitamo-la. Se aceitarmos a visão pagã, a nossa teologia terá de apresentar tons pagãos. E a nossa sexualidade também. O paganismo defende que a família tradicional não pode ser a única referência da sociedade. Que casais do mesmo sexo podem adoptar e educar crianças. E, é esta desconstrução da heterossexualidade, como norma das sociedades humanas que leva ao crescimento do paganismo. Naturalmente, a destruição da sexualidade "tradicional", abre o caminho para uma visão pagã da sexualidade. Isto é visível nos índices assustadores de divórcios, no crescimento exponencial da pornografia e da pedofilia, e na pressão social para que se aceite abertamente a homossexualidade. Voltamos aos tempos de Ló, onde todos no povo, tantos velhos como novos, se dedicavam publicamente às práticas sodomitas. Este é um fenómeno que marca a espiritualidade pagã do nosso tempo. No entanto, não ficamos por aqui. A homossexualidade é apenas a antecâmara doutro fenómeno mais abrangente: a androginia. (continua)
Textos de apoio: "How should we then live" Francis Schaeffer; "On being a Christian" Hans Kung; "The vision of God" K.E.Kirk "Orthodoxy" G.K.Chesterton
Samuel Nunes