sexta-feira, março 19, 2004

Androginia: A Sexualidade Pagã (2)
Tentei na semana passada demonstrar que o objectivo da homossexualidade militante, é a desconstrução da família tradicional, com raízes no liberalismo teológico, no feminismo extremado e na espiritualidade do novo paganismo a que assistimos. Hoje gostaria de ir um pouco mais longe nas marcas pagãs da nossa sociedade que têm ressuscitado um culto da androginia. Desde sempre, que o paganismo andou de mãos dadas com o sistema religioso andrógino.
Mel Gibson, na sua “Paixão”, retratou de forma genial a figura do diabo. Sibilino e escorregadio, insinuante e provocante... bonito. Bonito mesmo! E... andrógino. Aquela cena misteriosa quando o diabo leva ao colo e acarinha uma criança envelhecida, o que significará? Bem, primeiro o diabo não acarinha nada! Será a inocência perdida que ele carrega!? Será a criação por redimir, e que mais tarde é restaurada por aquela lágrima divina que irá despoletar todos os fenómenos naturais!? (Pode ser. Visto que quando o diabo grita alucinado e derrotado, já não tem nada ao colo. A putrefacção da criação e da humanidade escaparam-lhe. Com a morte de Cristo tem início uma restauração cósmica que terá a sua apoteose nos novos céus e nova terra) Mas, mesmo aquele ser aberrante e abjecto, ao colo de satanás é um andrógino ontológico.
Já na época Suméria (1800 AC) havia sacerdotes andróginos associados ao culto da deusa Ishtar. A razão do seu culto era porque a deusa tinha “transformado a sua masculinidade em feminilidade”, e funcionavam numa posição ambígua entre o mito e a realidade.
Várias formas de androginia são encontradas na Síria e na Ásia Menor no 3º século AC, mas a sua expressão mais clara aparece durante o Império Romano. Está bem documentado que a Grande Mãe Cibele tinha sacerdotes andróginos chamados Galli que se castravam como acto de adoração permanente à deusa. Uma versão de Cibele encontra-se em Éfeso, onde Paulo fundou uma Igreja, sob o nome de Artémis. Na Síria a Cibele tem o nome de Rhea. Os ritos de iniciação para o culto a Cibele ou a Rhea, incluíam o baptismo no sangue dum touro morto na arena. No fim da cerimónia por vezes os “poderes genitais” do touro eram oferecidos à mãe dos deuses. Mais uma prova da emasculação do macho diante da divindade feminina. Não há muitas dúvidas de que este ritual era uma reprodução do culto mítico egípcio a Isís, em que o irmão/ amante Osíris é morto e o seu corpo cortado aos bocados. Isís, junta os pedaços do corpo do seu amante, excepto o pénis que é comido por caranguejos, e magicamente restaura-o à vida. Por outras palavras, mesmo na morte o macho ideal é emasculado, como os Galli em vida.
Há razões para acreditar que uma forma antiga de Gnosticismo, chamado Hermetismo, influenciou o Ocidente na Idade Média, revelando-se na espiritualidade mística da Alquimia. Assim, o alquimista espiritual transformou-se naquele que “sabe segredos”. Embora não houvesse nenhuma manifestação sexual explícita, o juntar dos opostos (fenómeno tão querido dos espiritualistas da Nova Era) era visto como um casamento sagrado, cujo fruto era a “pedra filosofal”. Por vezes o fruto aparece representado como um “filho da obra”, apresentando-se com o nome de Andrógino Hermético. Um ser autenticamente “dois-em-um”. No mínimo, haverá aqui uma androginização ritual.
A herança moderna da Alquimia é a Teosofia. A sua fundadora, Madame Blavatsky, mantinha uma relação lésbica dominadora com a sua sucessora Annie Besant. Aleister Crowley e Charles Leadbeater, notáveis homossexuais, continuaram a obra da fundadora iniciando a liga pagã da Ordem Hermética da Aurora Dourada. As suas actividades eram abertamente uma propaganda da sua espiritualidade pagã.
Falta o espaço para mencionar variadíssimas manifestações de androginia nos cultos Africanos, com os “sacerdotes assexuados vestidos e comportando-se como mulheres”; nos feiticeiros da Amazónia; nos bruxos Celtas; e na espiritualidade Hindu, com o Yoga Tântrico. Mircea Eliade explica: “quando Shakti (uma divindade hindu), que dorme na forma duma serpente (kundalini), na base do seu corpo, é acordada por certas técnicas yogâmicas, ela mexe-se através das chakras (mediadores de energia) até ao topo da cabeça, onde habita Shiva (outra divindade hindu), e une-se a ele”. O praticante de yoga, por técnicas poderosas de meditação sexual/ espiritual, é assim transformado num tipo de andrógino. Também no Budismo o verdadeiro humano, o arquétipo, é chamado bodhiasattva, e é andrógino.
É interessante notar que todos estes cultos pagãos têm em comum, para além da androginia, o comportamento levitacional, a auto mutilação, e a encarnação em animais. Também há uma habilidade na comunicação com o mortos. Emily Culpepper, ex-Baptista, agora uma bruxa lésbica pagã, diz o seguinte: “o poder das bruxas, das sibilas, e dos druidas, emerge da sua capacidade de comunicar com os não humanos: forças extra-terrestres e subterráneas, e com o mundo espírita dos mortos”.
São evidências sóbrias, as que enunciei. O paganismo da nossa sociedade vem vestido de sexualidade pagã. Dito doutra forma: a homossexualidade não será tanto uma questão biológica ou social, mas sim a expressão prática de espiritualidades pagãs tão velhas como o mundo. É cada vez mais evidente que um compromisso religioso vem acompanhado duma prática sexual bem definida. (veja-se só o escândalo na América dos padres sem castidade)

Texto de apoio: “Tratado de História das Religiões”, Mircea Eliade
Samuel Nunes


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O CORREIO ANIMAL

Caros animais
Vim parar ao vosso blog e a alegria foi imensa. A minha simpatia pelos evangélicos já tem uma data algo longa. Não posso dizer que sou um católico não-praticante, mas continuo noutro cliché do catolicismo, o do católico escravo da tradição.
Há coisa de uma década também eu tentei encetar uma publicação própria que abordasse originalmente algumas facetas religiosas do dia-a-dia. A falta de meios impediu aquilo que o suporte da internet hoje facilita e a coisa dissolveu-se antes da meia-dúzia de números.
Gostava de fazer o pedido de ver online os vossos arquivos. A curiosidade é muita.
Gostava ainda, antes de finalizar, de dar os parabéns a todos, sobretudo a Samuel Uria pelo artigo simplesmente genial e à confissão tocante de João Leal.
Um abraço e os votos de vos continuar a ler por muito tempo
Sérgio

Caro Sérgio,
o problema dos arquivos em on-line é o nosso espinho na carne. Estamos a ver se sobrevivemos a esta provação temporária. Agradecemos a sua leitura e as palavras amáveis. Que não as possamos desmerecer.
Um abraço,
TOC
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