[Sem Título]
Chama-se Jorge, e já foi “craque”. No início da década de noventa chegou mesmo a representar o F.C. Porto e a Selecção Nacional. Hoje, discreto treinador de uma equipa de juniores, veio até à minha igreja falar de si e da sua ainda curta experiência cristã. Atrás dele, o cenário resume-se a uma cruz de madeira envernizada, na parede clara, e a um púlpito esguio. E é com palavras também despidas que o Jorge constrói o seu relato.
Começa por recordar os tempos de glória. Os tempos das entrevistas de página inteira, nos jornais desportivos, dos miúdos acotovelando-se por um autógrafo, dos estádios cheios a aplaudir o drible bem sucedido. Tempos que pareciam tornar legítima qualquer ambição. No entanto, os excessos, e a insatisfação, insidiosa, não tardaram. E de nada serviram as fugas para a frente, forçando sempre um pouco mais o limite. A glória, tão efémera, transformara-se em desilusão cansada, e a morte surgia, então, como uma solução plausível.
Felizmente, o Jorge encontrou amigos que lhe trouxeram uma alternativa. E, quando fala agora dessa descoberta fundamental e do encontro luminoso que se seguiu, exibe a alegria serena, uma espécie de espanto, de quem achou o caminho para o lar, quando já se julgava irremediavelmente perdido.
Às vezes, de tão embrenhados em argumentação doutrinária e apologética, parece que esquecemos que o Cristianismo se apresenta, antes de mais, como uma vivência concreta. O Evangelho está muito longe de se reduzir a um “Guia com Indicações Úteis para Viver Melhor a Vida”. Ele aponta para a obra de Cristo e para a possibilidade de uma relação pessoal com o Criador do Universo. E desse relacionamento nasce um imperativo de mudança.
O Jorge fala agora em paz, onde antes havia angústia; fala em harmonia na família, em vez de conflito; e confessa, sorrindo, que conseguiu, finalmente, fazer a dieta tantas vezes começada e falhada.
Escuto-o, e não posso evitar a emoção. Neste mar de transformações é perfeitamente visível o milagre da salvação.
Pedro Leal