Fruta ou chocolate, reverendo?
No domingo passado o meu pastor pregou muito bem. Mas, ó ardil das trevas!, quis Deus que ao sair da casa de oração me viesse na memória não a admoestação pastoral mas uma tenebrosa visão naquele mesmo local recolhida. Durante o sermão a juventude ouvia. Isto é bom. Enquanto lambia chupa-chupas. Isto é mau.
Uma irmã generosa havia interrompido a classe de jovens da Escola Dominical para oferecer uma pequena dose de guloseimas. As Escrituras não condenam a sucção de alimentos doces e tão pouco este hábito vai contra o Credo dos Apóstolos. Mas duvido que o seu exercício favoreça a liturgia comunitária.
Por que razão um texto tão açucaradamente reaccionário? Como bom baptista que sou, não creio na essencialidade da ortodoxia no culto. Por isso aprecio tanto a extravagância pentecostal como a contenção católica. É uma questão de estilo. Ambas promovem, na sua disparidade, uma busca do crente pelo momento em que o seu Deus se revela na comunidade.
Crer em metas finais é fácil: a paz no mundo, a tragédia da pedofilia, água canalizada, auto-estradas sem portagens... São valores que não necessitam da existência palpável do Outro para a impressão de concórdia. Difíceis são as metas intermédias: qual o vizinho que trata do condomínio, oferecer sempre a prioridade ao da direita, louvar em conjunto com ou sem palmas... As nossas igrejas estão repletas de crentes com vívidas visões dos Novos Céus e da Nova Terra mas que deixaram a cama por fazer em casa.
A minha geração não é pior do que a anterior. Segue outras modas com virtudes mais discretas e despautérios mais decotados. Mas deve entender que a igreja é o lugar em que Deus está por se reunirem dois ou três em seu nome. São números que justificam convenções provisórias. E se, para um que seja, é feio comer durante o culto ainda menos se deve chupar pirolitos enquanto o pastor prega. A partilha da fé é um assunto sério demais para ser tomado com a leveza da paz no mundo.
Tiago de Oliveira Cavaco