sexta-feira, maio 14, 2004

Ciência e a Afirmação da Fé
Certo dia um cientista do Reino Unido fez no seu laboratório uma experiência, uma síntese de um produto químico na qual conseguiu um rendimento de 90%. Anos mais tarde na África do Sul, este mesmo cientista seguiu exactamente a mesma técnica da primeira síntese e conseguiu um rendimento de apenas 65%. O cientista não conseguia perceber a causa deste decréscimo no rendimento da reacção, pois tinha utilizado exactamente os mesmos reagentes, o mesmo material, as mesmas condições, enfim, tudo. Na sequência deste resultado, o cientista não assumiu que as leis químicas envolvidas tinham mudado, nem que a mesma técnica tinha agora passado a produzir resultados diferentes. Antes, assumiu que embora não percebesse o quê, alguma coisa ele teria feito de diferente. Para isto, ele usou o que podemos chamar de fé.
A crença na reproductibilidade química é um acto de fé, na medida em que a ciência assume que todas as leis se mantêm constantes no espaço e no tempo e não tem bases para isso além do facto de até agora, sempre ter sido assim. Estas são as mesmas bases que eu tenho, por exemplo para acreditar na fidelidade de Deus ? até agora Deus sempre tem sido fiel.
Mais tarde, o cientista veio a descobrir que um dos reagentes tinha sido adulterado pela humidade.
Como podemos ver por este exemplo, a fé e a ciência não são inimigos figadais. A ciência tem muito de fé, e o pensamento científico por sua vez, chega a ter um papel muito importante na apologética e na abordagem cristã das escrituras. A minha formação científica foi preponderante a determinado ponto da minha conversão e entendimento do evangelho.
Contudo, a ciência tem um campo de acção definido e limitado. C. S. Lewis ilustra esta realidade pedindo-nos que imaginemos um cientista que pensa que a sua esposa pode estar a ser-lhe infiel. No seu laboratório, perante uma questão ou problema, como bom cientista que é, ele formula uma hipótese, e de seguida, cria todas as condições para experimentalmente provar que a sua hipótese se mantém sem ser contrariada por nenhuma das experiências. Se tal se verificar, ele promove a sua hipótese ao estatuto de teoria, e é essa a sua conclusão. Decerto que perante a hipótese da infidelidade da sua esposa, o cientista não iria criar todas as condições para que a sua hipótese se pudesse comprovar experimentalmente. Se o fizesse, estaria a ignorar toda uma série de considerações sobre a natureza humana que nesta situação seriam primordiais. O método científico poderia neste caso ter consequências desastrosas. Não era o método indicado para esta situação! Seria como utilizar um telefone para medir a radioactividade.
Temos de conseguir perceber qual é o domínio da ciência. Temos de conseguir perceber o que é que Deus nos diz através da sua palavra revelada que a ciência não diz.
Para ajudar na resposta a esta questão, vamos imaginar duas pessoas numa noite de verão passeando à beira-mar. Ambas se aperceberam de alguns fachos de luz no mar. Um deles era um cientista e o outro era um escuteiro marítimo. O cientista descreveu o que acontecera como a visão de um filamento de Tungsténio aquecido, fechado numa cápsula de sílica emitindo um padrão regular de flashes de radiação no comprimento de onda do visível a uma intensidade de aproximadamente 2500 lúmens , à distância de 850 metros da costa. O escuteiro descreveu o acontecido como a sinalização luminosa de um SOS para a guarda costeira que prontamente enviou socorro.
Qual deles deu a descrição mais correcta do que acontecera? ? Nenhum ! Ambos deram uma descrição correcta, mas em termos bem diferentes!
Este exemplo do cientista e teólogo Ernest Lucas ajuda-nos a perceber o género de questões a que a ciência responde. A ciência diz-nos como o sinal luminoso foi produzido, mas não nos diz porquê. Da mesma maneira, a ciência pode tentar dar sugestões acerca de como o homem foi criado, mas nunca nos dirá o porquê de o homem ter sido criado.
Existem muitas questões que ultrapassam claramente o domínio da ciência, como por exemplo as questões éticas. De onde tiramos os valores que regem a ciência ? O homem tem originado muitos desastres por não ter um sistema de valores capaz de controlar o uso da ciência. Pensemos por exemplo na bomba atómica e na sua utilização como consequência de um notável progresso científico, mas ao mesmo tempo de uma terrível inconsciência moral.
Foi por esta razão que a confiança exacerbada na capacidade humana, e no engenho científico (como garantia de um futuro risonho para a humanidade) apregoada pelo racionalismo positivista do início do século, foi destruída pela tragédia da 1ª Grande Guerra. Ficou claro que a ciência não tinha a resposta para tudo.
Contudo, não foi apenas no âmbito da ética que os ideais deste racionalismo se mostraram incompletos. A deficiência que se verificava no tocante ao encarar da dimensão espiritual e mais subjectiva do homem, a pouco e pouco se tornou notória e mais relevante. Assim, confirmando um pouco a "hegeliana" visão dialéctica da história, a tese gerou uma antítese, e depressa se aplicou o subjectivismo e o pluralismo sugeridos pelos desconstrutivistas literários à totalidade da realidade humana, preenchendo assim com uma nova dimensão o vazio deixado por muitas décadas de "ditadura racionalista".
Hoje em dia a realidade das limitações do positivismo racionalista está mais presente procurando-se agora respostas em todo o tipo de transcendentalismo.
O mundo científico está também desperto para esta realidade. Stephen Hawking, um dos mais proeminentes físicos do nosso tempo, dá também sinais desta consciência, quando no seu livro "Uma Breve História do Tempo" lança a questão: "O que é que expira fogo para as equações e faz com que exista um universo para elas descreverem?".
C.S. Lewis deixou-nos uma frase que aponta o caminho para a resposta a esta questão : "O que nunca podemos fazer é excluir a hipótese de o sobrenatural ser a única explicação possível". E é apenas isto que o cristão faz ! Assume que o homem foi criado porque Deus o quis !
A Bíblia ensina-nos que Deus criou o mundo com um propósito e ensina-nos também que é Deus quem mantém o universo a funcionar: a afirmação da Imanência de Deus .
Ao olharmos para uma flor, podemos perceber ali, Deus a suster e a manter a natureza tal como a conhecemos. Como Jesus afirmou, as próprias aves do céu são sustentadas por Deus. Como é que Deus sustenta é uma questão para a ciência resolver...
Tiago Branco