História para Crianças, ou "O Jardim a Tua Vida"
Era uma vez um jardineiro que um dia decidiu plantar o jardim mais bonito, mais vistoso e mais agradável alguma visto. Vai ser a minha obra prima, pensou, vou procurar as sementes mais preciosas, as plantas mais bonitas, e o frutos mais perfumados e vou juntá-los num jardim de respirar fundo, de encher o coração.
E assim, foi. Partiu e viajou pelo mundo inteiro, por montanhas e vales, pelos lugares mais ermos e desabitados enfrentando perigos e tempestades, em busca das sementes mais preciosas, dos rebentos mais frágeis, e dos perfumes mais raros. Só parou quando conseguiu todas as sementes e rebentos de árvores, plantas e flores que tinha imaginado para o seu jardim. Regressou, voltou ao lugar que havia escolhido, e durante meses a fio, trabalhou para construir aquele que seria o mais belo jardim de todos os tempos. E uma a uma, as mais preciosas sementes, aquelas que dariam as mais belas e frondosas árvores foram plantadas no centro do jardim. Com muito cuidado, a semente da amizade foi colocada, acondicionada, com a melhor terra, e regada. Da mesma maneira, as sementes da verdade e da justiça foram cuidadosamente plantadas, de modo a formar, juntamente com a semente da amizade, um triângulo. No centro deste triângulo, foi plantada a mais preciosa semente do todas, a semente do amor, a jóia e a vida daquele que viria a ser o mais belo jardim de todos os tempos.
Com um cuidado paternal, todos os dias o jardineiro voltava ao seu jardim, para cuidar de todos os pequenos rebentos. Podava, regava e acondicionava cada rebento com toda a dedicação e carinho (sim, porque as pequenas plantas, são como as crianças, precisam de atenção e de carinho) e assim, todas cresciam fortes, bonitas e saudáveis. O jardim começava a mostrar toda a sua beleza.
Porém, um outro jardineiro ficou com muita inveja por ver um jardim tão bonito, e não conseguindo suportar mais a raiva, decidiu no seu coração destruir aquele jardim. Mas quis destruí-lo com um requinte de malvadez, sem deitar fogo ao jardim, sem abater as árvores ou pisar as plantas. Decidiu desfigurar o jardim, corrompendo o que nele havia de mais belo. Assim, lançou-se numa busca pelas sementes das plantas mais terríveis, e dos frutos mais venenosos, e quando os conseguiu, escondeu-se à entrada do jardim, e esperou pelo cair da noite. Quando a lua já ia alta, correu até ao centro do jardim onde cresciam fortes e bonitas as árvores da amizade, da justiça e da verdade, e no centro destas três a árvore do amor. E do seu saco negro retirou uma semente da árvore da cobiça, e plantou-a mesmo ao lado da árvore da amizade. E ao lado da árvore da verdade, plantou a semente da mentira, e ao lado da árvore da justiça, plantou a semente da ganância. Não plantou nada ao lado da árvore do amor - ele sabia que o trabalho estava feito!
Nas noites que se seguiram, continuou a visitar o jardim, regando as suas sementes de destruição e cuidando delas, da mesma maneira que o bom jardineiro cuidava das suas.
Os dias foram passando, e as árvores da amizade, da verdade e da justiça que outrora cresciam fortes e vigorosas, travavam agora uma terrível luta pela sobrevivência. Apenas uma das árvores, que estavam juntas podia sobreviver. Sim, porque a verdade, não vive, quando vive a mentira, e a amizade não sobrevive à cobiça, e a justiça não consegue viver ao lado da ganância. E a árvore do amor aos poucos definhava, porque o amor não sobrevive no meio da cobiça, nem da mentira, nem da ganância.
O fim desta história depende de cada um de nós, pois no nosso coração, tal como o jardim, temos sementes de amizade, justiça, verdade e amor. Mas temos também sementes de mentira, de cobiça e de ganância. O que acontece é que muitas vezes não percebemos que estas sementes não podem viver ao mesmo tempo. E muitas vezes não percebemos que o amor não sobrevive à cobiça, nem à ganância, nem à mentira. Também é fácil esquecermos que as sementes têm de ser regadas, e cuidadas, tal como as crianças, e que se não as regarmos, elas nunca crescem.
Mas quase todos queremos ter um jardim bonito, portanto o final da história depende de cada um de nós. Depende de quais vão ser as sementes que regarmos, exercitamos e fortalecemos, e depende de quais vão ser aquelas que decidimos arrancar.
O jardim, é o nosso, a vida é a nossa, e o coração é o nosso. Por isso fazemos com eles o jardim que quisermos.
Tiago Branco