Nota
Estamos em remodelações. Voltaremos de cara lavada e coração circuncidado. Em breve.
sexta-feira, outubro 15, 2004
sexta-feira, julho 16, 2004
sexta-feira, junho 25, 2004
A Pausa
Tenho saudades do Daniel Day-Lewis. Quem? Dirão alguns mais distraídos. Daniel Day-Lewis, de "o meu pé esquerdo", "a insustentável leveza do ser" - que me fez apaixonar pela Juliette Binoche e por Praga, cidade das misteriosas pontes e das orquestras na rua - "o boxer", e "o último dos moicanos". Neste, há uma cena luminosa logo a abrir. Daniel Day-lewis corre por entre as árvores da floresta com mais dois companheiros índios, na perseguição dum alce. A adrenalina corre com a emoção da caçada, a música cresce de intensidade e a velocidade acelerada pelos efeitos especiais é contagiante. DDLewis pára. Faz pontaria. Dispara. A velocidade cai. O filme passa à câmara lenta. A música entra em travagem abrupta. O alce é abatido. Os três índios chegam perto do animal ferido de morte e prestam-lhe uma última homenagem. "Respeitamos muito a sua coragem, velocidade e força" diz o mais velho de joelhos, respeitosamente. Nenhum deles ri ou mostra sinais exteriores de vitória. Pelo contrário, até há uma lágrima furtiva que rola pela face dum dos índios.
Vejo aqui uma imagem perfeita da nossa vida espiritual. Como corremos! Como caçamos! Como atiramos a matar - geralmente outros seres humanos! E, como nos felicitamos pelas vitórias sobre os outros. E se a "vítima" for um irmão em Cristo, ainda melhor. Pagamos cervejas a toda a gente! E, ninguém me diga que não é assim porque a negação será hipocrisia grave. Mas, sobre a matança em que alegremente nos envolvemos na Igreja, podemos falar depois. É tão habitual que já não cativa leitores. (a audiência nesta coisa dos blogues é essencial!) Deixo apenas uma nota de pausa. (kit-kat, em linguagem pagã; selah, em linguagem bíblica) Uma pausa visceral. Essencial. Uma desaceleração feita num repente instantâneo. Sem aviso e sem carta registada. Uma pausa para me aquietar das corridas desenfreadas que a minha existência exige. Uma pausa para deixar fluir a consciência de que uma vida caiu na arena. Uma pausa para aceitar que sou frágil e efémero. Uma pausa para reconhecer que a minha identidade inchada não se sustenta à base dos meus esforços. Uma pausa para ver que pertenço ao coração de Deus, e que será aí, sempre aí, que terei um lugar de refúgio. Uma pausa para engravidar a restauração de forças. Uma pausa para renovar a minha mente visionária, energia profética e determinação vocacional. Uma pausa para elogiar e acarinhar, a coragem, a velocidade e a força espiritual, do meu irmão em Cristo. Sem essa pausa ... não resistirei. Irei soçobrar. Naufragar. E me abominar.
Samuel Nunes
Tenho saudades do Daniel Day-Lewis. Quem? Dirão alguns mais distraídos. Daniel Day-Lewis, de "o meu pé esquerdo", "a insustentável leveza do ser" - que me fez apaixonar pela Juliette Binoche e por Praga, cidade das misteriosas pontes e das orquestras na rua - "o boxer", e "o último dos moicanos". Neste, há uma cena luminosa logo a abrir. Daniel Day-lewis corre por entre as árvores da floresta com mais dois companheiros índios, na perseguição dum alce. A adrenalina corre com a emoção da caçada, a música cresce de intensidade e a velocidade acelerada pelos efeitos especiais é contagiante. DDLewis pára. Faz pontaria. Dispara. A velocidade cai. O filme passa à câmara lenta. A música entra em travagem abrupta. O alce é abatido. Os três índios chegam perto do animal ferido de morte e prestam-lhe uma última homenagem. "Respeitamos muito a sua coragem, velocidade e força" diz o mais velho de joelhos, respeitosamente. Nenhum deles ri ou mostra sinais exteriores de vitória. Pelo contrário, até há uma lágrima furtiva que rola pela face dum dos índios.
Vejo aqui uma imagem perfeita da nossa vida espiritual. Como corremos! Como caçamos! Como atiramos a matar - geralmente outros seres humanos! E, como nos felicitamos pelas vitórias sobre os outros. E se a "vítima" for um irmão em Cristo, ainda melhor. Pagamos cervejas a toda a gente! E, ninguém me diga que não é assim porque a negação será hipocrisia grave. Mas, sobre a matança em que alegremente nos envolvemos na Igreja, podemos falar depois. É tão habitual que já não cativa leitores. (a audiência nesta coisa dos blogues é essencial!) Deixo apenas uma nota de pausa. (kit-kat, em linguagem pagã; selah, em linguagem bíblica) Uma pausa visceral. Essencial. Uma desaceleração feita num repente instantâneo. Sem aviso e sem carta registada. Uma pausa para me aquietar das corridas desenfreadas que a minha existência exige. Uma pausa para deixar fluir a consciência de que uma vida caiu na arena. Uma pausa para aceitar que sou frágil e efémero. Uma pausa para reconhecer que a minha identidade inchada não se sustenta à base dos meus esforços. Uma pausa para ver que pertenço ao coração de Deus, e que será aí, sempre aí, que terei um lugar de refúgio. Uma pausa para engravidar a restauração de forças. Uma pausa para renovar a minha mente visionária, energia profética e determinação vocacional. Uma pausa para elogiar e acarinhar, a coragem, a velocidade e a força espiritual, do meu irmão em Cristo. Sem essa pausa ... não resistirei. Irei soçobrar. Naufragar. E me abominar.
Samuel Nunes
sexta-feira, junho 18, 2004
Orgulho e preconceito
O meu orgulho evangélico nunca residirá na sofisticação alternativa que o "credo desviante" pode suscitar. Aqui no interior não há disso. Nunca me lembro de, na pequena Tondela, a minha religião ter causado curiosidade cultural a qualquer amigo. Jamais me confessei protestante para impressionar miúdas. Isso não resulta, em Tondela não resulta.
A minha vergonha evangélica reside - isto sim defino mais facilmente - em tudo o que se confunde com cristianismo e não passa de diletantismo denominacional. Sufoca-me mas não me leva a desistir. Por muito que ataque a mediocridade dos cultos aponto de dentro, não falto a um. Se escrevo a criticar a insipidez das palavras fico-me também pela inoperante escrita e vejo homens subir ao púlpito para que eu não tenha razão. Quando reparo nas agruras da vida comunitária conto as bênçãos. Provavelmente isto permanecerá intrincado, mas a minha vergonha evangélica poderá estar na raiz de grande parte do meu orgulho evangélico.
Não me considero um hipócrita sempre desunhado na crítica ao sistema que subscreve. Sou um tipo da pequena Tondela, demasiado provinciano para ser insidioso, demasiado bem-intencionado para ser fútil. Restrinjo à minha pessoa toda a ironia que acabo de traçar. Talvez me tenha habituado em demasia a escrever censuras aos evangélicos mas a estratégia inconsciente é "menos mal" elaborada: antecipo-me às críticas exteriores quando eu próprio, assumindo-me evangélico, nos repreendo, evangélicos assumidos, orgulhosos ou envergonhados.
Com isto da Internet a "curiosidade cultural" ou as "miúdas impressionadas" podem estar na janela da frente. A pequena cidade beirã perde fronteiras que não faço ideia até onde se alargam. Oportunidade soberana para desfilar o meu "orgulho evangélico", especialmente este incaracterístico que desprendidamente ataca os seus. A aceitação intelectual pode estar mesmo ali atrás de meia dúzia de conhecimentos sobre profetas menores. Ei, olhem todos para mim, o do "credo desviante"...
...Meu Deus, que porcaria de orgulho é que eu poderia ter nisto?
A carapuça não me serve e, sei-o sem margem para dúvidas, está igualmente uns largos números abaixo da cabeça dos meus amigos que partilham este espaço dos Animais Evangélicos. No dia em que decidir aproveitar-me da religião para me auto-promover que serei mais do que um diletante denominacional? Terei vergonha.
Samuel Úria
O meu orgulho evangélico nunca residirá na sofisticação alternativa que o "credo desviante" pode suscitar. Aqui no interior não há disso. Nunca me lembro de, na pequena Tondela, a minha religião ter causado curiosidade cultural a qualquer amigo. Jamais me confessei protestante para impressionar miúdas. Isso não resulta, em Tondela não resulta.
A minha vergonha evangélica reside - isto sim defino mais facilmente - em tudo o que se confunde com cristianismo e não passa de diletantismo denominacional. Sufoca-me mas não me leva a desistir. Por muito que ataque a mediocridade dos cultos aponto de dentro, não falto a um. Se escrevo a criticar a insipidez das palavras fico-me também pela inoperante escrita e vejo homens subir ao púlpito para que eu não tenha razão. Quando reparo nas agruras da vida comunitária conto as bênçãos. Provavelmente isto permanecerá intrincado, mas a minha vergonha evangélica poderá estar na raiz de grande parte do meu orgulho evangélico.
Não me considero um hipócrita sempre desunhado na crítica ao sistema que subscreve. Sou um tipo da pequena Tondela, demasiado provinciano para ser insidioso, demasiado bem-intencionado para ser fútil. Restrinjo à minha pessoa toda a ironia que acabo de traçar. Talvez me tenha habituado em demasia a escrever censuras aos evangélicos mas a estratégia inconsciente é "menos mal" elaborada: antecipo-me às críticas exteriores quando eu próprio, assumindo-me evangélico, nos repreendo, evangélicos assumidos, orgulhosos ou envergonhados.
Com isto da Internet a "curiosidade cultural" ou as "miúdas impressionadas" podem estar na janela da frente. A pequena cidade beirã perde fronteiras que não faço ideia até onde se alargam. Oportunidade soberana para desfilar o meu "orgulho evangélico", especialmente este incaracterístico que desprendidamente ataca os seus. A aceitação intelectual pode estar mesmo ali atrás de meia dúzia de conhecimentos sobre profetas menores. Ei, olhem todos para mim, o do "credo desviante"...
...Meu Deus, que porcaria de orgulho é que eu poderia ter nisto?
A carapuça não me serve e, sei-o sem margem para dúvidas, está igualmente uns largos números abaixo da cabeça dos meus amigos que partilham este espaço dos Animais Evangélicos. No dia em que decidir aproveitar-me da religião para me auto-promover que serei mais do que um diletante denominacional? Terei vergonha.
Samuel Úria
The South Will Rise Again?
A Convenção Baptista do Sul saiu da Aliança Baptista Mundial. Não me interessa fazer uma análise séria e imparcial do caso. Outras paróquias fá-lo-ão muito melhor. Um dos argumentos usados pelos sulistas é de que a ABM tinha vindo a assumir uma postura política "à esquerda". Anti-americana e teologicamente liberal.
Sabemos o que está em causa. Os baptistas do sul têm-se mostrado publicamente ao lado de Bush. Ora, o presidente americano é uma meretriz babilónica até aos olhos dos geralmente insípidos baptistas europeus. Basta ver a forma ingénua como Carter tem sido promovido como "exemplo" para a actual administração. O velho Jimmy foi azarado com o Irão mas aprendeu a construir casas para os pobrezinhos e lá lhe deram um Nobel. Da mesma maneira como o parodiante Moore recebeu a Palma. O Velho Continente tem sido próspero em recompensar quem junte mais gasolina à fogueira "anti-imperialista" (como eles gostam de dizer).
Provavelmente a Convenção Baptista do Sul até faz bem em sair da ABM. Escusa-se de se pegar nas questões ditas teológicas. Não será por aí. Não é necessário apimentar a coisa com acusação de simpatia pelos efeminados. Como diz Denton Lotz, o secretário-geral da ABM, somos todos "conservative evangelicals". E é verdade.
Raramente a política tem sido motivo de divisão entre evangélicos. Contudo, parece que os tempos nos empurram para a assunção de diferenças. A concórdia entre gente tão diversa é um valor relativo. Afinal muitas vezes estão "reunidas" formas antagónicas de olhar o mundo. Quem não sabe o que é juntar um pentecostal com um baptista?
No quintal que são os baptistas portugueses muito me apercebi que era escândalo para os irmãos apoiar a intervenção americana no Iraque. Trágica ironia. Tudo o que importamos da América e me revolve as entranhas foi esquecido neste momento de crucial ódio contra-atlântico. Muitos dos pastores que tão alarvemente ridicularizam agora os americanos são aqueles que, mal aterram no aeroporto, não vêem a hora de transformar as suas igrejas de subúrbio no último grito da moda evangélica em terras ianques. E um pouco de vergonha?
Debaixo da designação "evangélicos" cabem carismáticos em chamas, moderados que lêem o Público, cristianofascistas, intelectuais de esquerda, exorcistas sem paramentos, papa-versículos, obcecados pelo inferno e superintendentes da Escola Dominical. Não era bom se a banda parasse de tocar essa cantiguinha brasileira pirosa e começássemos a assumir as nossas divergências? Não temos de acabar as nossas reuniões sempre com um amén.
Tiago de Oliveira Cavaco
A Convenção Baptista do Sul saiu da Aliança Baptista Mundial. Não me interessa fazer uma análise séria e imparcial do caso. Outras paróquias fá-lo-ão muito melhor. Um dos argumentos usados pelos sulistas é de que a ABM tinha vindo a assumir uma postura política "à esquerda". Anti-americana e teologicamente liberal.
Sabemos o que está em causa. Os baptistas do sul têm-se mostrado publicamente ao lado de Bush. Ora, o presidente americano é uma meretriz babilónica até aos olhos dos geralmente insípidos baptistas europeus. Basta ver a forma ingénua como Carter tem sido promovido como "exemplo" para a actual administração. O velho Jimmy foi azarado com o Irão mas aprendeu a construir casas para os pobrezinhos e lá lhe deram um Nobel. Da mesma maneira como o parodiante Moore recebeu a Palma. O Velho Continente tem sido próspero em recompensar quem junte mais gasolina à fogueira "anti-imperialista" (como eles gostam de dizer).
Provavelmente a Convenção Baptista do Sul até faz bem em sair da ABM. Escusa-se de se pegar nas questões ditas teológicas. Não será por aí. Não é necessário apimentar a coisa com acusação de simpatia pelos efeminados. Como diz Denton Lotz, o secretário-geral da ABM, somos todos "conservative evangelicals". E é verdade.
Raramente a política tem sido motivo de divisão entre evangélicos. Contudo, parece que os tempos nos empurram para a assunção de diferenças. A concórdia entre gente tão diversa é um valor relativo. Afinal muitas vezes estão "reunidas" formas antagónicas de olhar o mundo. Quem não sabe o que é juntar um pentecostal com um baptista?
No quintal que são os baptistas portugueses muito me apercebi que era escândalo para os irmãos apoiar a intervenção americana no Iraque. Trágica ironia. Tudo o que importamos da América e me revolve as entranhas foi esquecido neste momento de crucial ódio contra-atlântico. Muitos dos pastores que tão alarvemente ridicularizam agora os americanos são aqueles que, mal aterram no aeroporto, não vêem a hora de transformar as suas igrejas de subúrbio no último grito da moda evangélica em terras ianques. E um pouco de vergonha?
Debaixo da designação "evangélicos" cabem carismáticos em chamas, moderados que lêem o Público, cristianofascistas, intelectuais de esquerda, exorcistas sem paramentos, papa-versículos, obcecados pelo inferno e superintendentes da Escola Dominical. Não era bom se a banda parasse de tocar essa cantiguinha brasileira pirosa e começássemos a assumir as nossas divergências? Não temos de acabar as nossas reuniões sempre com um amén.
Tiago de Oliveira Cavaco
[Sem título]
A ideia, sabe-se lá com que fim, é clara. Fazer confundir o Presidente norte-americano George W. Bush, e as suas acções políticas e militares, com a totalidade dos evangélicos. Os autores dos textos são católicos com aparentes "protestantivites" mal curadas, como Frei Bento Domingues e Sarsfield Cabral, e agnósticos empedernidos, como Mário Soares. Os artigos vão saindo com regularidade nos jornais desde há uns meses para cá.
Obviamente que esta tentativa de generalização é um disparate. Tanto o denominado "sionismo cristão" como a intervenção militar no Iraque, as duas acusações maiores, têm entre os evangélicos apoiantes e detractores. Aliás, a reacção à guerra que depôs Saddam está longe de se poder fundamentar num único ponto de vista. O cristão, pela sua nova natureza, ama e trabalha para a paz. Mas isto não significa que seja necessariamente pacifista. Pacifismo implica a ausência do uso da violência em qualquer circunstância. E se há cristãos que vivem coerentemente, e muitas vezes com um preço elevado, este ideal, como os Menonitas, também é verdade que para a maioria a conquista da paz e da justiça justifica, em situações extremas, o recurso às armas. A Segunda Guerra Mundial constitui aqui um caso paradigmático. Nesta perspectiva, a invasão do Iraque pode ser valorizada de forma diferente por dois evangélicos sem que haja entre eles um conflito doutrinário. Os meios para alcançar o objectivo podem variar. O objectivo em si, neste caso a paz, esse sim, importa ser comum.
Mas, mais do que o conteúdo erróneo dos artigos, que num meio tão ignorante da diversidade religiosa como o nosso, nem choca muito, incomoda-me a reacção que um número crescente de evangélicos vem tendo em relação à referida "campanha".
Concerteza que é muito mais agradável sermos associados a um Prémio Nobel da Paz, como Jimmy Carter ou Martin Luther King, do que a um impopularíssimo e insultado George Bush. No entanto, alguns evangélicos parecem ter esquecido que não é o reconhecimento público ou o barómetro da opinião pública que definem um cristão. Bush pode ser uma companhia incómoda para uma minoria religiosa em Portugal. Mas não é por isso que podemos por em causa a sua fé ou renegá-lo como irmão em Cristo. As suas convicções religiosas são, tanto quanto se conhece, claramente evangélicas. Terá opções doutrinárias que me causam perplexidade. Mas o mesmo acontece entre um baptista e um carismático, e isso não constitui motivo para se renegarem mutuamente.
Tal como as opções politicas do Presidente norte-americano devem ser avaliadas à luz do Evangelho, também é sob essa mesma luz que se reconhecem os que partilham connosco a fé em Jesus Cristo. A bitola da popularidade e a escala benefício/prejuízo não ficam nada bem nas mãos evangélicos.
Pedro Leal
A ideia, sabe-se lá com que fim, é clara. Fazer confundir o Presidente norte-americano George W. Bush, e as suas acções políticas e militares, com a totalidade dos evangélicos. Os autores dos textos são católicos com aparentes "protestantivites" mal curadas, como Frei Bento Domingues e Sarsfield Cabral, e agnósticos empedernidos, como Mário Soares. Os artigos vão saindo com regularidade nos jornais desde há uns meses para cá.
Obviamente que esta tentativa de generalização é um disparate. Tanto o denominado "sionismo cristão" como a intervenção militar no Iraque, as duas acusações maiores, têm entre os evangélicos apoiantes e detractores. Aliás, a reacção à guerra que depôs Saddam está longe de se poder fundamentar num único ponto de vista. O cristão, pela sua nova natureza, ama e trabalha para a paz. Mas isto não significa que seja necessariamente pacifista. Pacifismo implica a ausência do uso da violência em qualquer circunstância. E se há cristãos que vivem coerentemente, e muitas vezes com um preço elevado, este ideal, como os Menonitas, também é verdade que para a maioria a conquista da paz e da justiça justifica, em situações extremas, o recurso às armas. A Segunda Guerra Mundial constitui aqui um caso paradigmático. Nesta perspectiva, a invasão do Iraque pode ser valorizada de forma diferente por dois evangélicos sem que haja entre eles um conflito doutrinário. Os meios para alcançar o objectivo podem variar. O objectivo em si, neste caso a paz, esse sim, importa ser comum.
Mas, mais do que o conteúdo erróneo dos artigos, que num meio tão ignorante da diversidade religiosa como o nosso, nem choca muito, incomoda-me a reacção que um número crescente de evangélicos vem tendo em relação à referida "campanha".
Concerteza que é muito mais agradável sermos associados a um Prémio Nobel da Paz, como Jimmy Carter ou Martin Luther King, do que a um impopularíssimo e insultado George Bush. No entanto, alguns evangélicos parecem ter esquecido que não é o reconhecimento público ou o barómetro da opinião pública que definem um cristão. Bush pode ser uma companhia incómoda para uma minoria religiosa em Portugal. Mas não é por isso que podemos por em causa a sua fé ou renegá-lo como irmão em Cristo. As suas convicções religiosas são, tanto quanto se conhece, claramente evangélicas. Terá opções doutrinárias que me causam perplexidade. Mas o mesmo acontece entre um baptista e um carismático, e isso não constitui motivo para se renegarem mutuamente.
Tal como as opções politicas do Presidente norte-americano devem ser avaliadas à luz do Evangelho, também é sob essa mesma luz que se reconhecem os que partilham connosco a fé em Jesus Cristo. A bitola da popularidade e a escala benefício/prejuízo não ficam nada bem nas mãos evangélicos.
Pedro Leal
O Naufrágio
Quando este texto estiver nos "Animais" estarei a banhos nas praias do Mediterrâneo. É uma reincidência! Fico sempre fascinado com este Mar imenso, dum azul fundo e límpido. Foi neste mar que há 2700 anos Jonas foi cuspido dum peixe. Foi neste mesmo mar que há 2000 anos Paulo foi cuspido dum barco. Os dois naufragaram neste mar. As semelhanças entre os dois passam da coincidência e viram cristocidência. Jonas enamorado duma planta (foi o primeiro profeta ecológico), Paulo romanceado com pessoas: "nem um cabelo se perderá!" Jonas alienado a dormir no meio da borrasca, Paulo empenhado e envolvido na salvação do barco e nos relacionamentos pessoais a bordo. Jonas tem um encontro imediato com uma planta, Paulo com uma serpente. Jonas dando importância à matéria - "skarah" - comprando todo o barco, Paulo interessado no espiritual. Jonas vendo o natural - bílis no estômago do peixe, Paulo vislumbrando o sobrenatural: "um anjo". Jonas fugindo da face de Deus, Paulo dialogando e orando com Deus. E, fico-me nas ambiguidades da pergunta: serei Paulo, ou serei Jonas? Nas entrelinhas está a resposta. Há um desejo enorme em mim de ser Paulo, e há uma pré-disposição brutal de ser Jonas. E, neste ser e não ser, fico olhando o Mar, numa dança e contradança de nunca esquecer.
Samuel Nunes
Quando este texto estiver nos "Animais" estarei a banhos nas praias do Mediterrâneo. É uma reincidência! Fico sempre fascinado com este Mar imenso, dum azul fundo e límpido. Foi neste mar que há 2700 anos Jonas foi cuspido dum peixe. Foi neste mesmo mar que há 2000 anos Paulo foi cuspido dum barco. Os dois naufragaram neste mar. As semelhanças entre os dois passam da coincidência e viram cristocidência. Jonas enamorado duma planta (foi o primeiro profeta ecológico), Paulo romanceado com pessoas: "nem um cabelo se perderá!" Jonas alienado a dormir no meio da borrasca, Paulo empenhado e envolvido na salvação do barco e nos relacionamentos pessoais a bordo. Jonas tem um encontro imediato com uma planta, Paulo com uma serpente. Jonas dando importância à matéria - "skarah" - comprando todo o barco, Paulo interessado no espiritual. Jonas vendo o natural - bílis no estômago do peixe, Paulo vislumbrando o sobrenatural: "um anjo". Jonas fugindo da face de Deus, Paulo dialogando e orando com Deus. E, fico-me nas ambiguidades da pergunta: serei Paulo, ou serei Jonas? Nas entrelinhas está a resposta. Há um desejo enorme em mim de ser Paulo, e há uma pré-disposição brutal de ser Jonas. E, neste ser e não ser, fico olhando o Mar, numa dança e contradança de nunca esquecer.
Samuel Nunes
sexta-feira, junho 11, 2004
Do editor
Quatro textos curtos para o número 23 d'Os Animais Evangélicos. Aconselha-se a última Terra da Alegria. Com muito bons artigos.
TOC
"Os Animais".
Quatro textos curtos para o número 23 d'Os Animais Evangélicos. Aconselha-se a última Terra da Alegria. Com muito bons artigos.
TOC
"Os Animais".
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